TRABALHO — Relações e História

Ana Rita de Calazans Perine
3 min readApr 25, 2023

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Trabalho pode ser definido como um conjunto de atividades humanas — físicas ou intelectuais, produtivas ou criativas — realizadas para atingir determinados fins, desde a obtenção de renda até a realização pessoal e profissional, passando por processos de desenvolvimento e transformações individuais e coletivas, nas esferas socioeconômicas e político-culturais.

Esse conceito se transformou ao longo da história. Na Antiguidade o trabalho era visto como vil e execrável. Na Idade Média como castigo, desprovido de prazer e valor. Hoje, símbolo de status e realização pessoal. Prova disso é o fato usual das pessoas se apresentarem pelo cargo que ocupam ou função que exercem, como se assim fossem capazes de representar a integralidade de quem são.

De um lado divagações um tanto romantizadas de como as atividades agregam a sociedade e aos seres humanos que as exercem, impulsionando comunidades e fazendo repensar condutas em direção a formas mais humanas de nos relacionarmos coletivamente. De outro a informalidade e a precariedade do trabalho e das relações trabalhistas que subjugam e não emancipam.

Lastimavelmente, em pleno século XXI, parcela significativa da população mundial não consegue alcançar o mais básico de seus objetivos: trabalho como forma de obter comida, abrigo e vestimenta.

A ideia sagrada de trabalho, como sacro-ofício, que diviniza o fazer como máxima expressão humana, vinculando-o ao prazer e a felicidade se contrapõe fortemente a ideia de trabalho como castigo, contida na etimologia latina da palavra, vinda de tripalium, instrumento de tortura.

O dia do trabalho, adotado por diversas nações, surgiu como forma de diminuir o abismo entre visões idealizadas e concretas, entre teoria e prática, e se deu na luta!

A data faz referência a greve operária que ocorreu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1º de Maio de 1886, pela melhoria das condições de trabalho e redução da jornada de 13 para 8 horas. Muitos manifestantes mortos e vozes caladas.

Décadas mais tarde, em 1920, Paris relembra a data e reativa com vitória a luta pela redução da jornada de trabalho, instituindo-se na França o dia como feriado nacional.

Quatro anos depois, em 1924, aqui no Brasil passa a ser feriado oficial pelo decreto do presidente Artur Bernardes. Além de ser um dia de descanso, é uma data com ações voltadas para os trabalhadores. Não por acaso, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi anunciada no dia 1º de Maio de 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas.

Que ações conscientes de organizações públicas e privadas — incluindo a sociedade civil organizada e a celeridade ética dos Três Poderes, além da mobilização respeitosa da comunidade internacional — possam nos aproximar da utopia do trabalho como realizador de sonhos, comprometida com a sustentabilidade do Planeta, que passa, imprescindivelmente, pelo respeito à vida e zelo à dignidade humana.

NOTA: O texto pode ser conferido também em áudio no podcast “Filosofia Clínica — Diálogos Transversais”, disponível nas principais plataformas.

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Ana Rita de Calazans Perine

Filósofa Clínica, Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial / Instituto ORIOR — Resgate Filosófico, Transdisciplinaridade e Sustentabilidade.