RES PUBLICA — Coisa Pública

Tropas no Arco do Triunfo, no Rio de Janeiro, no final do século XIX (Foto: Arquivo Nacional)

Deixo por aqui um repente de trovador, ao apresentar esse continho feito da dor que não é uma só, ceifa centenas de milhares de histórias, sem o menor pudor, antes mesmo de começar…

Em um tempo do eu encastelado, que invisibiliza o outro e aborta prematuramente a mais pálida noção de nós, afrouxem as gravatas, desamarrem os coturnos, livrem-se de insígnias, desapeguem-se das verdades parciais das bravatas, no silêncio acompanhado e a sós, preparem-se para enxergar…

Uma proto nação desarticulada anda a esmo esquálida, inquirindo onde se encontra a tal Coisa Pública que escafedeu-se levando junto — sem noção — dignidade, respeito, responsabilidade, razão…

Onde está? Ninguém viu? Tantos proclamam, mas será que em algum momento realmente existiu?

A saga da sanha é tamanha que usurpa o que ainda não instituiu. E no vazio de significado vão se parindo dias de uma gravidez que, ao que parece, nem sequer emergiu.

No diário assinala o nascituro impedido de respirar: o que estrangula povo e território, obstaculiza paz, justiça e a conjugação do verbo amar?!

Sem vestígios de cooperação, que conclama diálogo, comprometimento e muitas mãos… nem sinal de superação.

Olha a folhinha do calendário… Sim, é 15! Sim, é Novembro! Mas concatenar dia e mês não há como, nessa usura que usurpa a construção compartilhada, rotula diferenças e enterra a sete palmos a possibilidade de interseção, o que nos resta de consagração?!

Colocar bandeiras a meio mastro, talvez… Mas até a vergonha dos que ainda sentem anda impedida de circular. Nesse País de chagas abertas esqueceu-se de como conversar.

Para o futuro repensar algo precisa ser feito, não há como reiteradamente nos negarmos a ver esse muro e transpassar…

Que um dia o eu apequenado cresça e perceba o outro como parte dele próprio. No presente, ruborizado pelos desacertos do passado, firme o pé e faça do futuro um nós, coletivo em canto e dança entrelaçado. Nesse tempo a Res Publica há de se apresentar, liberta por reconhecer legítima a busca de quem de fato a procura sustentar.

Assim o 15 de Novembro seu lugar de direito por fim encontrará. Do calendário para o coração de cada brasileiro. Que livre da tormenta, como ser humano novamente se perceberá.

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Filósofa Clínica, Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial / Instituto ORIOR — Resgate Filosófico, Transdisciplinaridade e Sustentabilidade.

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Ana Rita de Calazans Perine

Filósofa Clínica, Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial / Instituto ORIOR — Resgate Filosófico, Transdisciplinaridade e Sustentabilidade.