RELIGARE — O Feminino em Nós
Nesse oito de março, Dia Internacional da Mulher, mais do que as conquistas justas e legítimas, as quais muito agradeço, honro as grandes mulheres que me antecederam e que até hoje continuam a inspirar e guiar meus passos.
De certo modo o que sou hoje, em pleno século XXI, é um amálgama de todas elas. Independente da área em que atuaram — arte, ciência, filosofia, política e religião — e se o fizeram no seio de suas famílias ou em pleno domínio público — universidades, teatros, templos, ágoras e fóruns — esses seres emblemáticos eram bem mais que representantes de um gênero… Poderosas ao direcionar inquietudes para canalização de vontade, boa parte das vezes nadando contra a corrente do preestabelecido e do socialmente aceito, se mantiveram coerentes conduzindo suas vidas de forma a extrair das pequenas grandes certezas angariadas no atento observar cotidiano o combustível necessário para não só manter viva como intensificar cada vez mais a chama dos sonhos.
A energia que movimentavam, e até hoje em nós movimentam, basta nos conectarmos a elas, é a energia una de quem responde a um mandamento interno. Um imperativo categórico (como diria Kant ) que não admite qualquer condicionante, que não responder ao impulso de vida — em pensamento, palavra e ato — que sente fortemente vibrar em seu coração.
É muito curioso… Passado e futuro sempre se encontraram no presente. Aqui como lá, devido a estreitamentos perceptivos, a coerência corre o risco de se confundir com falta de flexibilidade, teimosia e até escassez de inteligência. Os movimentos que buscam um olhar mais integrador, harmônico e equilibrado costumam dizer menos, apesar de sempre somarem.
Incomoda, não há dúvida, quem sacode os alicerces do tido como inabalável. Gera medo, caos, confusão… Espatifa-se o quebra-cabeça tão bem engendrado. Novas e mais expressivas peças demandam outra ordenação. Somos abduzidos da comodidade do lugar comum. O desconhecido, o novo, se apresenta. E assusta, claro. Mas promove propriedades emergentes.
O coração dispara. Pelo seu rápido pulsar ele se faz ouvir. Concomitantemente disparos elétricos percorrem todo o nosso corpo. E a gente vibra. As pernas até bambeiam, amolecem… Mas o canal se estabelece. Tomamos posse de nós mesmos. A partir do centro, do ator que conhece o texto de cabo a rabo, representamos em alto e bom som o nosso papel. Exercemos com naturalidade o que nos cabe.
Essas grandes mulheres assim o fizeram. Elas abraçaram desafios e inspiraram todos a sua volta. Encararam com coragem avassaladora as crises como oportunidades de introjetar Theos no Caos, e promover Cosmos.. Seja para fazer vingar um filho e transformá-lo em homem de bem no mais árido território da miséria humana física e psicológica… Seja para gestar ideias e partejar novas formas de estar e se relacionar com o mundo…
Continuemos com esta sabedoria que tudo enlaça e sempre aprende. Nossa força reside na suavidade resoluta de quem sabe estar conectada a luz, sobretudo nos tempos mais duros, ainda que em meio a espessas trevas…
Não há verdade que não comporte outros olhares. “O que é mesmo, não é de forma total e verdadeira” nos ensina Platão. Quando as ideias se mostram necrosadas, sem vida, estáticas, há que dizer não a estagnação. Romper com o movimento, ainda que vicioso, pode ser assustador… Mas é ele quem garante um novo hálito de vida.
Criação, manutenção e destruição compõem um sistema vivo retroalimentado a serviço da harmonia, equilíbrio e justiça dentro e fora de nós. Assim é no micro, como no macro…
Que saibamos captar seus sinais. Feliz Dia Internacional da Mulher!
(Texto de Março de 2013)