PELO DIREITO DE SER, SONHAR E FILOSOFAR...

Ana Rita de Calazans Perine
2 min readFeb 9, 2025

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Via Láctea por Jheison Huerta, Salar de Uyuni / Bolívia.

O sol se insinua entre as pesadas cortinas do quarto, o sino da Catedral ressoa, chamando os fiéis para a missa dominical. Cadê forças para levantar da cama... A noite fora entrecortada, ainda que aquietasse o coração e conciliasse o sono rapidamente. Tempos de mudanças, rearranjos em tantas ordens... De um lado despedidas; de outro, reencontros. A acomodação das camadas conhecidas revelam inusitadas... Aquelas surpresas que desalojam e sussuram: coragem.

A palavra resistência tem se revelado para mim, ultimamente, um termo bastante equívoco, resisitir o quê e para quê... Que não seja a vida, nos privando da plena capacidade de vivê-la.

Amargo o mundo já anda demasiado. Talvez devessemos descansar dos anos tensos de luta, que nos isolaram em necessárias bolhas de sobrevivência. Quem sabe tratarmos de buscar maior leveza nas interações e reações, transpondo margens, desenhando novos e mais ampliados contornos enquanto humanidade...

Precisamos reaprender a esboçar sorrisos, ainda que em meio as lágrimas, abrir fendas nas brechas, oportunizando a expansão da roda e espiralando a gira...

Há que momentaneamente soltarmos as mãos para seremos capazes de generosa e desinteressadamente estendê-las...

Interseccionar espaços dentro e fora de nós verticaliza o movimento e nos faz perceber maiores e mais potentes as semelhanças do que as diferenças, os sonhos do que os medos, as alegrias do que as tristezas, as celebrações do que os rancores...

Não seria assim, permitindo uma trégua no combate hostil ao mundo do outro, por entender atropelar o meu próprio antes mesmo de tangenciá-lo, produzindo universalizações míopes que apagam histórias singulares, uma forma mais eficaz de ressignificar relações e humanizar condutas...

Desestabilizar a dicotomia eu versus outro, em prol do nós, se apresenta como necessária lufada de esperança, com o potencial de ampliar e fortalecer laços em prol da regeneracão da vida.

Convém levantarmos, nos espreguiçarmos deixando passar a letargia que engessa, ainda que em movimento, abrir as cortinas do quarto, escancarrar janelas e portas, deixar sol e ar fresco entrarem... Permitir que a Egrégora se faça, em nós e entre nós.

NOTA - No texto, preferi reticências aos pontos de interrogação porque perguntar, sem colher respostas que o continuado viver nos possibilita, ao invés de promover conexões, pode nos fragmentar ainda mais. Cuidado com as armadilhas do pensar: como subproduto da mente, pensamento é meio e não fim em si mesmo. Espiralemos as ideias, busquemos sentir e promover as conexões que fazem falta para realizar, viabilizemos respeitosas aproximações... Quiçá, neste reiterado exercício, algum dia estejamos aptos a transformar espaços de micropoder em territórios que celebram a potência de verdadeiros e profundos encontros.

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Ana Rita de Calazans Perine
Ana Rita de Calazans Perine

Written by Ana Rita de Calazans Perine

Filósofa Clínica, Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial / Instituto ORIOR — Resgate Filosófico, Transdisciplinaridade e Sustentabilidade.

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