LITERATURA — na Vida e na Clínica

Ana Rita de Calazans Perine
2 min readSep 4, 2021

Relação continuada que sobrevoa ideias complexas e aterrissa em sensações, a nossa e a dos livros. Quem já não capturou ou se deixou capturar pelas emoções, até dos jargões neles contidos.

Galeano, no enfrentar silêncios para recuperar o não dito, é danado. Ele nos faz reverberar em outro plano, flexibiliza o fadado.

Momento do devaneio poético, diria Bachelard. De tanto concentrar para ordenar imagens — como plantas, necessitam de terra e de céu — o imagético enlaça o simbólico e encontra novos imaginários. Jung, Campbell… O escarcéu.

Utopia… Por intermédio dos livros exercitamos maneira nata, em seus mais diversos gêneros, de enxergar a nós mesmos e até manejar circunstância que mata. Distopia…

As pessoas no Pessoa acordam outras em nós. Qual a sintonia… Termos agendados no intelecto partejando ideias… Ressignifica e marca autogenia.

Navegar Camões nos arrebata. Ora pela tormenta que clama por sonhos. Ora pela calmaria que suspende a vida que a nós se ata.

Clarice é seca pancada que desaloja, nos desperta do torpor. O corriqueiro, banhado pela espontânea poesia, amplia olhares e transborda em novos horizontes a dor.

Vargas Llosa talvez questionasse se teria ou não valia. Se há alguém que fala, a fala vem de algum lugar. Do pensamento a seu modo estruturado, não se dá à revelia.

Sartre conjura, enlaça o insano em outra envergadura. Desatino humano que encontra coisas antes mesmo das palavras. Confere existência à poesia na loucura.

Com persistência de andarilho, o livro ao leitor ementa. Em recíproca inversiva aparece como sujeito oculto por ruídos travestidos. E durma com essa contenta.

Representação em essência. Que poder é esse que vem com a leitura… Se em sua função não conclui, só desencadeia, a literatura… Em meio a épicos flagelos, ascende em resistência.

O inventado humano… Lê com o que tem, com o que é e como pode. Contida a narrativa ou derramada em prosa, Shakespeare o faz brotar sublime… Na plenitude, onde sagrado encontra profano.

Nietzsche arremataria… Humano, demasiado humano… Mistério posto, mesmo que não revelado. Indício não concluso de aí radicar sua supremacia… Não seria super, o homem alado.

Físicos ou não, o que não é substituído é a experiência que proporcionam ao serem lidos. Autor e leitor mesclam mundos e da dança compartilhada novos passos cadenciam em compasso. Devassam paixões… E ainda mais vivos… Os livros… Rompem grilhões.

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Ana Rita de Calazans Perine

Filósofa Clínica, Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial / Instituto ORIOR — Resgate Filosófico, Transdisciplinaridade e Sustentabilidade.