LIDERANÇA — Impressões …

Ana Rita de Calazans Perine
2 min readJul 9, 2021

Infelizmente ainda raro, embora em um crescente paulatino, a manifestação do ator por detrás do personagem que encarna. Reconforta quando, em meio a cargos, títulos e posições o humano consegue se fazer notar.

Curioso como muitos ainda se apegam a conceitos retrógrados e torpes, julgando que o grau hierárquico ocupado em uma organização, por si só, é capaz de impor respeito. Definitivamente, não o é. O muito que se consegue quando ocultos por papéis — crachás, gabinetes, assessores — é inviabilizar sensos de causa e comprometimento. Não se trata de negar a hierarquia, natural e vital na condução da vida como um todo, mas de alertar para a brutal diferença entre poder natural e instituído.

Líderes naturais (portanto, legítimos) costumam abdicar do direito de portar superlativos de tratamento. Não se sentem representados nem por um doutor, quanto mais por excelentíssimo, ilustríssimo, digníssimo… Ainda que por eles designados nas formalidades dos cerimoniais, não se permitem ser por eles engessados.

Ao contrário de boa parcela dos instituídos, os líderes naturais são amados, e não temidos. São admirados, e não bajulados. Têm amigos caminhando lado a lado, e não oportunistas à espreita.

O poder natural não nega incerteza, tampouco receio. Mas quem o porta carrega a firme e sólida convicção de que coragem, ousadia inteligente (ponderada) e soma de esforços permitem que respostas sejam colhidas a cada pergunta lançada. O medo não os paralisa, acautela, redobrando atenção e refinando ainda mais a precisão conquistada.

Verdadeiros líderes cooperam com os que estão a sua volta e só competem com eles mesmos. Buscam ser um pouquinho melhores a cada dia, cientes de que perfeição não lhes cabe e que só nos aproximamos dela quando nos colocamos em relação.

Sinalizam caminhos porque já os trilharam, conhecem seus segredos, facilidades e dificuldades. Olhos treinados, experientes e precavidos lhes permitem, sem titubear, lançar mão da instrumentalização necessária para vencer os desafios do percurso.

Feito lúcido e criterioso diagnóstico, não se negam a beber remédios amargos quando deles dependem a longevidade dos empreendimentos que conduzem, desde que não venham a ferir gravemente outros humanos a eles ligados, direta ou indiretamente. Têm plena convicção que nem de longe todos os princípios são negociáveis. Sabem que não são insubstituíveis, mas diariamente constatam o quanto são necessários.

Não seguem à risca modelos. Adéquam e aprimoram conceitos baseados em suas experiências e na realidade de suas organizações, os mantendo vivos e dinâmicos. A unanimidade os inquieta. Esses líderes instigam, desafiam e orientam.

Líderes naturais buscam o encontro, se alimentam da troca e são potencialmente bem maiores que as instituições que representam. São gente!

(Texto de Setembro de 2013)

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Ana Rita de Calazans Perine

Filósofa Clínica, Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial / Instituto ORIOR — Resgate Filosófico, Transdisciplinaridade e Sustentabilidade.