BELEZA EM AÇÃO
Resgato o conceito de BELEZA enquanto equilíbrio e harmonia. Como mote inicial: a estética, comumente acessada através da Arte. Amplio a abordagem da beleza para o BEM — BOM — BELO — JUSTO — VERDADEIRO. Busco agora, mais especificamente: a beleza expressa através de nossas ações. Portanto, em uma correlação direta com a CONDUTA HUMANA.
Assim, percebemos um maior entrelaçamento entre os eixos ÉTICA — ESTÉTICA — MÍSTICA, que integram o que denominamos SENTIMENTOS, como as mais sublimes emoções.
A tão almejada FELICIDADE, inclusive, está intimamente ligada ao poder que todos portamos de extrair beleza do e conferir beleza ao meio circundante. O pensamento alimenta nossa emoção, assim como a emoção alimenta o pensamento, uma via sempre de mão dupla… Ou, preferindo, a cruz e a espada entre as quais nos colocamos constantemente.
Ninguém melhor que Platão para nos dar uma boa chacoalhada ao tratar com pertinência de temas respaldados em culturas bem mais antigas que a grega, embora seja a partir dela que comumente o tema seja lido e contextualizado.
Ele trata de questões que habitam o âmago do ser humano, entre elas a enorme confusão que vira e mexe fazemos entre termos como FOME — NECESSIDADE — VONTADE — DESEJO. Como não lembrar dos Titãs?! Não da mitologia, mas do rock nacional de qualidade: “Você tem fome de quê?”
Como aparentemente são muitas as fomes e sedes, todas legítimas, razoável ponderar sobre as que devem e precisam ser saciadas, as que de fato nos energizam (nutrem) das que dissipam nossas parcas energias em contentamentos tão instantâneos quanto fugazes.
À grosso modo, podemos diferenciar DESEJO de VONTADE, afirmando respectivamente: um é efêmero, o outro perdura; um brota da dimensão material, outro da espiritual; um é imperativo hipotético, outro é categórico (nos dizeres de Kant).
Há que evitarmos posturas maniqueístas e dogmáticas, nada de extremismos… Desejar é tão próprio do humano como é próprio do humano, comprometido com a busca do autoconhecimento e aperfeiçoamento, se perceber desejando e orientando seus desejos na direção da progressiva sutilização, buscando a satisfação dos mais nobres em detrimento dos menos nobres.
Nesse sentido vale resgatarmos os conceitos do CONFLITO DA ALMA e dos DOIS DEMÔNIOS, ambos abordados por Platão e que subjazem, de forma mais ou menos direta, em toda a sua obra.
CONFLITO DA ALMA — A alma humana entra constantemente em conflito consigo mesma pelos dois princípios opostos que determinam suas atividades: o princípio da lógica (razão, que conduz seus raciocínios) e o princípio do prazer (concupiscência, que dirige seus desejos). Entre eles nenhum acordo é possível, é preciso a mediação entre os extremos, papel da cólera (fervilhar irresistível da alma que faz a prova da indignação, o “ardor do sentimento”).
DOIS DEMÔNIOS (o termo demônio refere-se à condição de mediador): do Espanto e da Indignação— Ambos dependem da mesma estrutura de abertura. O demônio do espanto dirige seu olhar admirativo para o interior da alma humana (abertura ao ser), o da indignação vira seu rosto perturbado para o exterior (abertura ao bem).
Não é a admiração perante o fato de as coisas serem o que são que conduz Platão a filosofar, mas a indignação perante o fato de que os homens não são o que deveriam ser.
(Texto de Maio de 2014)