
A LUTA CONTRA O VAZIO / Impeditivos da Experiência
Vocês já perceberam que as frases mais ditas são “eu estou com pressa” e “eu não tenho tempo”?
Pois é, elas bem definem o que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman chama de tempo da “modernidade líquida”, onde os momentos estão apenas frouxamente conectados numa sucessão caótica que gera ansiedade e a sensação de ter perdido algo.
Estamos constantemente correndo atrás e a alucinação é tanta que chegamos a nos esquecer atrás de quê.
Assim, inevitavelmente, nos tornamos reféns do mercado, hábil em avassaladoramente enxugar todo o tempo excedente que a duras penas lutamos para conquistar.
Ficamos cada vez mais afastados da gente mesmo, logo do nosso lugar de poder, centro dos sonhos e das certezas.
A possibilidade da experiência, daquilo que nos toca e transforma, justo o que incrementa nossa competência para viver, nos é roubada.
Além da escassez de tempo já mencionada, entre os impeditivos da experiência, como bem lembra o educador espanhol Jorge Larrosa, estão os excessos de informação, opinião e trabalho.
A velocidade e a obsessão pela novidade e pela ação impedem a conexão significativa entre os acontecimentos (que demanda quietude, silêncio) e a própria memória. Passamos a reagir e não a agir!
Nunca é demais lembrar: entre o estímulo e a resposta, temos a possibilidade de existir!
Assim como nossa vida é mantida por constantes e intercaladas contrações e expansões do nosso coração, que oxigena nosso sangue e oportuniza o inspirar e o expirar, deveríamos qualificar nossas trocas (vida exterior) com a vida interior.
A arte da contemplação, como bem alertava Platão ao tratar dos “Divinos Ócios”, vem em nosso auxílio.
(Texto de Novembro 2016)